domingo, 7 de dezembro de 2025

ANIVERSARIANDO

Hoje é meu aniversário – dizem, porque eu não me lembro de nada. Acreditando que assim seja, parabéns a mim própria, que consegui sobreviver mais um ano, sem virar meme, sem fugir para um planeta desabitado e sem ser abduzida (embora eu não descartasse a última opção).

Trata-se daquele dia especial, em que as pessoas dizem “aproveita muito!”, como se eu fosse fazer algo extraordinário… tipo pular de paraquedas, aprender mandarim e reorganizar minha vida inteira entre o bolo e os parabéns…
A realidade? Julgo que com a gripe que apanhei, vou comer, rir, fingir que estou mais sábia e aceitar que a minha maior conquista do dia, é não dormir durante os festejos longos demais.

Também vou receber mensagens do tipo “mais um ano de vida!”, como se eu tivesse ganhado isto numa promoção. Adoraria ganhar cupons, inclusive. Ou cashback. Mas não. Ganhei mais responsabilidades, rugas e a chance de preencher mais formulários. E perdi, de acordo com a futura legislação, a minha liberdade de conduzir para onde quisesse e quando me apetecesse.

De qualquer forma, aqui estou eu a comemorar convosco mais um capítulo da minha saga anual, torcendo para que este, seja o ano em que, finalmente, descubro o segredo da vida… ou pelo menos onde deixei as minhas chaves.

Enfim, ironicamente, parabéns para uma das mulheres mais interessantes do país, a quem desejo que venham mais 365 dias de caos estiloso, expectativas duvidosas e boas histórias para contar.

 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

LEMBRAR OS VIVOS SEM ESQUECER OS MORTOS

Há épocas do ano em que o tempo parece diminuir o passo, convidando-nos a olhar para dentro. São dias em que os encontros ganham outro brilho, e a memória, silenciosa, também pede lugar à mesa. É então que percebemos, como é importante lembrar os vivos sem esquecer os mortos.

Porque aqueles que estão connosco a hoje precisam do nosso cuidado, da nossa presença inteira, dos gestos que constroem o que ainda pode ser vivido. São eles que continuam a escrever, ao nosso lado, a história que segue adiante.

Mas os que partiram também permanecem — não no mesmo lugar, não da mesma forma, mas naquilo que deixaram em nós. Honrar a sua memória é reconhecer que uma parte do que somos foi moldada pelos passos que já não ouvimos, mas que ainda nos acompanham. Lembrá-los não é ficar no passado; é permitir que o amor, mesmo transformado, continue a iluminar o presente.

Assim, entre o que permanece e o que falta, aprendemos a equilibrar a saudade com a gratidão. Celebramos os vivos com alegria e abraçamos os mortos com a ternura da lembrança. E é nesse gesto duplo que a vida encontra profundidade — porque nenhuma ausência apaga o valor de uma presença, e nenhum luto impede que a esperança continue a crescer.

A minha mãe morreu no dia de Natal e levou com ela, uma parte da minha alegria nesta época. Mas o mano mais novo adorava reunir todos em casa dele e até há dois meses era assim que faríamos. A sua morte, completamente inesperada, vai tornar este período mais difícil. Primeiro lembraremos os ausentes e só depois abraçaremos os presentes. Para o ano será melhor!  

 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

O LAMENTÁVEL DESÂNIMO

Pessoalmente, não sou dada a desânimos. Mas, às vezes, fico verdadeiramente impressionada com “os desânimos” que vejo por aí. E ontem pensei bastante no assunto, porque uma malvada gripe me deixou num estado lamentável.

O desânimo chega silencioso. Às vezes, ele não anuncia a sua chegada: apenas se encosta ao nosso lado, pesa nos ombros e sussurra que nada vale a pena. Ele é aquele intervalo sombrio entre o que queremos ser e o que conseguimos fazer, entre o que sonhamos e o que, na prática, enfrentamos.

É normal sentirmo-nos assim. O desânimo faz parte da experiência humana. Ele aparece quando estamos cansados, quando algo não saiu como esperávamos ou quando o caminho parece maior do que as nossas forças. Mas é importante lembrar que o desânimo é um estado, não uma sentença. Ele não define quem somos, nem determina onde vamos chegar.

Há momentos em que parar é necessário. Respirar. Reorganizar. Permitir-se sentir. Mas, após essa pausa, vale a pena olhar ao redor e perceber que ainda há motivos para continuar. No fundo há pequenos progressos que talvez não tenhamos notado, pessoas que torcem por nós, capacidades que ainda nem sequer foram exploradas.

Superar o desânimo não é dar um salto. Muitas vezes, é apenas, dar o próximo passo — pequeno, simples, mas na direção certa. E cada passo feito com coragem, mesmo quando a vontade falta, é uma vitória silenciosa que fortalece o coração.

O desânimo pode até visitar, mas não precisa morar em nós. Há luz que espera, para além do momento escuro. E nós, mesmo sem perceber, carregamos o brilho necessário para a alcançar. Talvez seja esta a razão, para eu não ser dada a desânimos, mesmo quando a gripe ma apanha…

 

sábado, 29 de novembro de 2025

A BANALIDADE


A banalidade infiltra-se silenciosamente no quotidiano, como um véu tão fino que quase não percebemos sua presença. Ela ocupa os intervalos entre grandes acontecimentos, preenche a rotina com gestos automáticos e palavras repetidas. À primeira vista, parece desprovida de valor — o contrário do extraordinário, do memorável, do urgente. Mas é justamente nela que se escondem, muitas vezes, os contornos mais autênticos da vida.

É na banalidade que descobrimos quem somos, quando não estamos tentando ser nada especial. Nos rituais mínimos — preparar um café, observar a rua pela janela, procurar uma chave perdida — revelam-se formas de sensibilidade, paciência, inquietação ou alegria que, raramente, aparecem em momentos grandiosos. A repetição pode cansar, mas também pode confortar, porque oferece um chão, um ritmo, uma espécie de continuidade que nos protege do caos.

Ao mesmo tempo, a banalidade pode funcionar como anestesia. Quando tudo se torna igual, o olhar se embacia. O que antes era vivo e pulsante se transforma em paisagem estática. É por isso que a banalidade exige atenção. Não para ser evitada, mas para ser percebida. Quando a olhamos de verdade, ela deixa de ser mera repetição e transforma-se em matéria poética — uma chance de redescobrir o mundo no que ele tem de mais simples.

Assim, a banalidade não é inimiga do sentido. Ela é o território onde o sentido pode nascer sem alarde, devagar, quase tímido. Entre o extraordinário e o vazio, há esse espaço discreto que sustenta os nossos dias. Olhar para ele é, de certa forma, olhar para nós mesmos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A educação aos olhos de hoje

A educação contemporânea vive um momento de transformação profunda. Se antes o foco estava quase exclusivamente na transmissão de conteúdo, hoje ela é vista como um processo amplo, que envolve competências socio emocionais, pensamento crítico, tecnologia e diversidade cultural.

Um dos aspetos mais marcantes é a presença da tecnologia. A escola deixou de ser o único espaço legítimo de acesso ao conhecimento; plataformas digitais, vídeos educativos, ambientes virtuais e inteligências artificiais ampliaram as possibilidades de aprender. Isso traz oportunidades, como maior personalização do ensino, mas também desafios, incluindo desigualdade de acesso e dificuldade em filtrar informações confiáveis.

Outro ponto importante é a valorização das habilidades socio emocionais. Empatia, colaboração, autonomia e criatividade passaram a ter peso semelhante ao das disciplinas tradicionais. O mercado de trabalho atual exige profissionais flexíveis e capazes de resolver problemas, o que obriga a escola a repensar suas práticas pedagógicas.

Além disso, a educação aos olhos de hoje busca ser mais inclusiva. Há maior conscientização sobre a necessidade de atender diferentes ritmos, estilos de aprendizagem e realidades sociais. A diversidade passa a ser vista não como obstáculo, mas como potência.

Por fim, cresce a perceção de que educar é responsabilidade compartilhada entre escola, família e comunidade. A formação integral do estudante depende de um ecossistema de cuidado, diálogo e parceria.

 

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

INVERNO!

O inverno costuma exercer uma influência marcante sobre o estado de espírito das pessoas. As temperaturas mais baixas, os dias curtos e a luminosidade reduzida alteram não apenas a rotina, mas também processos biológicos ligados ao humor. A menor exposição à luz solar, por exemplo, impacta a produção de serotonina — neurotransmissor associado ao bem-estar — e pode aumentar a sensação de cansaço, desânimo ou irritabilidade. Também influencia o ritmo circadiano, fazendo com que muitas pessoas sintam mais sono ou apresentem dificuldade para manter a disposição do dia a dia.

Além dos fatores fisiológicos, o inverno pode afetar aspetos emocionais e sociais. As atividades ao ar livre diminuem, os encontros tornam-se menos frequentes e a tendência ao isolamento aumenta, o que pode potencializar sentimentos de solidão ou melancolia. Para alguns, o clima frio desperta um desejo de recolhimento e introspeção, que pode ser vivido de forma positiva, como um período de pausa e reflexão. Para outros, porém, o mesmo cenário traduz-se em queda de motivação e maior sensibilidade emocional.

Por outro lado, muitas pessoas associam o inverno a conforto e acolhimento. Rituais como beber uma bebida quente, usar roupas aconchegantes ou passar mais tempo em casa podem gerar sensação de segurança e tranquilidade. A estética da estação, com seu clima mais intimista, também pode inspirar criatividade e promover momentos de conexão consigo mesmo.

Em geral, o impacto do inverno sobre o estado de espírito varia de pessoa para pessoa. Enquanto alguns enfrentam desafios emocionais, outros encontram nessa estação um convite ao descanso e ao aconchego, como é o meu caso. O importante é reconhecer como o corpo e a mente reagem às mudanças e buscar estratégias saudáveis — aproveitar a luz natural, manter uma rotina equilibrada e cultivar vínculos — para atravessar a estação de forma mais leve.

 

domingo, 23 de novembro de 2025

UM JORNAL…

Hoje, a propósito da imparcialidade jornalística e dum post de Pedro Chagas Freitas, lembrei-me de uma história passada comigo. Havia publicado um livro e pediram-me várias entrevistas. Entre elas a de um parente que tinha, à época, um programa de livros, num respeitado jornal, do qual, aliás, eu era assinante desde o início. Passados dias e, francamente atrapalhado, o jornalista em causa, desconvidava-me porque, ao apresentar o meu nome, lhe haviam dito que eu” merecia uma conversa em horário nobre”. Sem convite oficial, a entrevista nunca aconteceu, até hoje, pese embora terem, entretanto, saído mais três livros meus!

Com o tempo, percebi que, talvez, não tivesse sido, apenas, uma questão de agenda. Admito que a causa possa estar nalguma animosidade, talvez não propriamente comigo, mas com eventuais conjunturas familiares. Que me sendo alheias, acabaram, todavia, por influir no modo como fui tratada.

Este episódio, aparentemente banal, deu-me, contudo, uma lição. A tão falada isenção jornalística, que deveria ser um princípio fundamental é, muitas vezes, relativizada por interesses pessoais, disputas internas ou até pequenas vinganças. Tendo eu carteira de jornalista há muitos anos, sei que a imparcialidade - que deveria ser regra -, se mostra, na prática, uma paleta cheia de tonalidades, num ofício cujo objetivo deveria ser a transparência.

No meu caso, não fez diferença. Nem todos têm de me apreciar, claro. Deixei, apenas, de ser assinante e leitora! Por seu lado, o jornal, livrou-se de mim, de forma menos correta. É a vida, como diz um amigo meu! Da comunicação social, digo eu!